quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Carta para os amigos do passado



Hoje, não sei se pela proximidade do Natal ou pela renovação das esperanças de um Novo Ano, resolvi escrever uma carta
para todos os amigos que a vida me apresentou e que nunca mais vi.
Sentei-me em meu canto favorito para dar início aos trabalhos. Nada de papel e lápis, nada da chamada tecnologia das comunicações eletrônicas.
Coloquei o DVD das minhas memórias, dei um retrocesso e voltei lá para trás, bem no começo de tudo.
Do primeiro amiguinho do primário, aquele que vivia trocando seu lanche comigo por gostar mais do que a minha mãe preparava. Claro, no meu tinha queijo e no dele só margarina. Mas isso não tinha a menor importância.
O que valia mesmo eram aqueles minutos de cumplicidade, em que a risada surgia à toa, a cada bobagem dita.
E o Walter então? Um dos primeiros amiguinhos a ganhar uma bicicleta de “gente grande”, sem as duas rodinhas extras, coisa que a minha total incapacidade de pedalar não me deixava fazer com a minha bicicleta jamais.
Os amigos dos primeiros jogos de futebol no campinho do “terreno das placas”, que havia sido batizado com esse nome por ser cercado pelas placas de publicidade, os chamados out-doors.
E do ruivinho do apartamento 42?
Mais conhecido como Foguinho, conseguia “roubar” sempre uma Playboy do irmão mais velho, que folheávamos ávidos enquanto as nossas mãos procuravam os bolsos de nossas calças, na tentativa de acalmar o “nosso amiguinho”, que só
encontraria sossego na intimidade do banheiro de cada um.
No ginásio, havia sempre aquele amigo especialista no domínio da matemática e física, que na carteira da frente, sabia como colocar o corpo de lado, deixando-nos “colar” as respostas dos exames. Às vezes a “colada” era tão absoluta que corríamos o risco de copiar até o nome do amigo na nossa própria prova.
Os amigos dos primeiros bailinhos, sempre dispostos a percorrer todas as ruas do bairro em busca da festa da vez.
Especialistas em traçar linhas de parentesco com os donos da casa, sempre davam um jeito de liberar a entrada para a
turma toda.
E o Joca? Filho da dona do nosso boteco preferido, dono de uma alma maior que o bolso.
Apesar de estar mais para troco do que para graúdo, sempre que tinha um dinheirinho na mão, fazia questão de compartilhar como os amigos. Grande exemplo de que para se divertir e ser feliz não é preciso ter dinheiro e sim espírito.
Na faculdade os companheiros já eram aqueles que nos acompanhariam na vida profissional. Alguns até foram, outros acabaram seguindo profissões distintas e sumiram por rumos desconhecidos.
Como minha proposta era escrever uma carta para os amigos que sumiram, não me preocupei em lembrar dos amigos presentes até hoje em minha vida. Aqueles a quem chamo, com a mais perene sinceridade e devoção, de irmãos que o destino me deu.
Esses sim estão ao meu lado, dispostos sempre a me oferecer um porto seguro, uma felicidade e um encantamento que só quem conhece o verdadeiro sentido da irmandade pode compreender.
Mas se todos esses que eu citei foram lembrados nessa minha carta mental, porque desapareceram?
Porque não continuaram na mesma estrada que eu segui?
A resposta a essas indagações, a minha voz interior não tarda a esclarecer.
Por que na vida, cada momento tem a sua hora exata para acontecer. A importância justa para fazer a transformação necessária para a construção da pessoa que você irá se tornar.
Como na escola, cada matéria deve ser ensinada na época exata em que o aprendizado será mais efetivo.
Assim como existe o tempo de semear e colher, as amizades sempre aparecem na hora em que a terra está mais propícia para a planta germinar.
A nossa vida é um imenso quebra cabeças. A soma de todas as peças é necessária para o entendimento da imagem. Uma pecinha que você retirar já vai ser suficiente para torná-lo inútil.
Portanto, mesmo que esses meus amigos tenham sumido nas brumas do tempo, quero agradecer a cada um deles por terem ajudado a montar o quebra cabeças da minha existência.
Amigos, cada um de vocês fez o todo que hoje sou.
Onde estiverem recebam um grande beijo meu e que a vida também lhes reserve amigos tão importantes como vocês foram na minha vida.

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