segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Carta ao meu pai

Celso Pinheiro de Oliveira

Oi, pai. Tudo bem?
Você deve estar estranhando eu escrever essa carta após mais de cinquenta anos da sua partida.
Mas, como todos dizem, o tempo por aí não guarda a mesma relação que o nosso, então, talvez tenham se passado apenas alguns dias, não é?
Hoje é o Dia dos Pais e resolvi transformar em carta tudo aquilo que sempre pensei em te dizer.
Como você bem sabe, eu era praticamente um bebê quando você se foi.
Não vou negar que foi muito difícil preencher o vazio que ficou. A sensação da falta, a ausência, acompanhou-me grande parte da vida. Aquela coisa de olhar para o lado é sempre haver uma cadeira vaga.
Dias como o de hoje eram como um punhal a cutucar minha alma.
As crianças na sala de aula preparando os seus "bilhetinhos para os papais" como a professora chamava, a corrida das mães e seus filhos pelas lojas a escolher os presentes que seriam dados, a espera pela hora de correr ao encontro do pai para os abraços e beijos... Todas essas coisas pareciam fazer parte de um mundo que não era meu.
Quantas noites eu não passei a perguntar por que não podia tê-lo ao meu lado.
Quantas vezes eu não me peguei a perguntar-lhe se estava sendo o filho que você esperava.
Você me ouvia, pai?
Acho que sim. De certa maneira sempre sentia a sua presença a me responder.
Mas, sabe pai, hoje eu queria mesmo é te agradecer.
Você soube escolher muito bem a mulher e a família que iria gerar e cuidar do seu filho. Uma família de mulheres fortes, guerreiras e amorosas, que foram fundamentais na formação do meu caráter, no modo em que eu viria a encarar a vida e os meus sentimentos.
A sua mulher, minha querida mãe, sempre foi o meu exemplo e a minha guia. Ela, como ninguém, foi a demonstração clara e viva de como devemos encarar e superar as dificuldades que a vida nos apresenta. Amor, suavidade e determinação.
E como deve ter sido difícil se dividir na dupla função de pai e mãe. O coração sempre se dividindo entre a necessidade de ensinar e a vontade de abraçar e confortar.
Ter que trabalhar fora doze horas por dia para prover o sustento da família e as atividades de mãe e dona de casa.
Claro que lá estava também a minha doce tia, que professora como minha mãe, alternava com ela os trabalhos como nossa segunda mãe.
Os ensinamentos, as rezas, as lições corrigidas e todo o carinho do mundo para nossas horas de tristeza e inquietações.
E para as situações em que a referência masculina era imprescindível, lá estava o meu tio a conduzir as ações, seja para ensinar a jogar futebol ou para ensinar como agir quando alguma menina nos tocava o coração.
Mas, pai, sabe quando realmente tudo mudou?
Quando fui abençoado pela chegada das suas netas.
Com elas a tristeza se foi. Conseguiram transformar uma data de ausência em um dia da mais absoluta felicidade e amor.
Hoje é esse dia.
O café na cama, os abraços e beijos e a alegria de estarmos juntos.
A felicidade de poder cumprir uma missão que você não teve tempo de vivenciar.
O seu filho, pai, é um homem realizado, muito feliz, mas muito feliz mesmo.
Sei que daí de cima você deve estar feliz também. De alguma maneira sinto que pude contar com você em muitas das minhas decisões e caminhos.
Agora sei que a sua presença sempre esteve nos detalhes, na minha parte que era a sua parte.
Sei que a maior felicidade que um pai pode aspirar e ver o seu filho feliz.
Pai, feliz Dia dos Pais para você e obrigado por tudo.
Beijo grande e até o nosso encontro.

PS. Já que escrevi, não custa perguntar: pai, eu estou sendo o filho que você esperava?

2 comentários:

  1. Qué linda Celso!!!
    Você me fez emocionar até as lágrimas..
    Um abraço muito forte, para você, sua mãe, e a sua familia que hoje faz que para você o dia dos pais seja um dia tão feliz...
    Tomara que meus filhos possam escrever uma carta assim algum dia...

    Adriana Weingast.

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  2. hermosisimo Celso , me has hecho llorar.....

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