sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ATIRADORES FRANCOS

FERNANDO RIOS


Um botequim qualquer. Eles estavam num botequim. Ele e ela. Um qualquer botequim. Desses onde as pessoas olham, se olham, olham, se olham...

Muitos, muitos olhares se perdem. E saem fugidos ou fugidios pelas janelas, portas, frestas. Ou mesmo no vácuo de uns olhados e umas olhadas que se retiram às pressas ou às calmas.

Às vezes, os olhares são tantos que formam pequenos furacões que, quase sempre, se confraternizam em esquinas pouco iluminadas.

Alguns olhares se trombam. E voltam aos seus proprietários. Esses costumam ficar com os olhos empapuçados de tantos olhares retornados.

Alguns olhares se cruzam. Mais, se atravessam. Então, os olhares atingem seus objetivos: querem ser ouvidos. E são.

Ele chegou e disse:
- Sou um assassino em série.
Ela respondeu:
- Sou uma assassinada. Adoro ser assassinada em série.

Conversaram um pouco. Não tinham tempo a perder. Nem tempo a ganhar. Só tinham tempo. E nem precisaram combinar um assassinato para daí a pouco. Simplesmente foram.

Embrenharam-se, falaram-se, ouviram-se, desempapuçaram os olhos, guardaram os olhares um do outro. Em alguma parte do corpo que não o globo ocular, testemunha da história.

No dia seguinte, cada um procurou outro botequim. Um botequim qualquer.

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