sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Por Toda Vida

Celso Pinheiro de Oliveira


A rua Libero Badaró, naquela tarde, tinha um certo ar de intranquilidade. As pessoas caminhavam apressadas, olhando para os lados, desconfiadas, numa aparente ansiedade para chegarem aos seus destinos.
Aquele 1969 estava sendo um ano difícil para todos. O presidente Costa e Silva, doente, a junta militar assumindo o comando. Para piorar, haviam sequestrado o embaixador dos Estados Unidos - Charles Elbrick. A tendência agora era das coisas se tornarem ainda mais imprevisíveis e perigosas.
Cesar subia a rua, alheio a tudo que o cercava. Estava terminando o Clássico; mais um ano estaria prestando vestibular para Direito. Aos desseseis anos, dividia seu tempo entre os estudos e o trabalho de office boy - meio período - no escritório de contabilidade do seu tio.
Estampidos, que lembravam o estourar de rojões, o colocaram em alerta. Gritos começam a ser ouvidos. De repente, como uma onda gigante, uma massa de gente correndo avança em sua direção, vinda do Largo São Francisco, sede da Faculdade de Direito.
O desespero era evidente. Manifestantes, misturados com as pessoas que estavam na rua, procuravam um abrigo para se protejerem do que estava por vir.
A razão de todo o medo surgiu na sequência. Montados em cavalos, que mais pareciam tanques de guerra, chegam as tropas do exército. Os soldados, atirando-se sobre as pessoas, jogavam seus animais e distribuíam pancadas com seus cassetetes, indistintamente, sem a menor preocupação de quem estivesse sendo atingido. As bombas de gás lacrimogênio disparadas cegavam as pessoas, o que tornava mais difícil ainda a busca por proteção.
No meio de todo o caos, Cesar vê uma menina, desesperada, sendo arrastada pela multidão. Instintivamente consegue alcançá-la e, puxando-a pelo braço, busca abrigo para os dois atrás da marquise de um prédio.
Ficaram encolhidos naquele canto por pelo menos meia hora, até que tudo se acalmasse.
Cesar espia para saber se tudo havia voltado ao normal. A rua era o retrato fiel do acontecido. Faixas de protestos rasgadas, pedaços de paus, marcas de sangue, sinais de toda a violência perpetrada. Como bichos da areia da praia que retornam a luz do sol após a onda haver passado, as pessoas saiam de seus esconderijos, tentando retomar os seus caminhos.
-Acabou? Com a voz trêmula, pergunta a menina, sem abandonar o seu canto protetor.
-Acabou sim, pode sair agora. Cesar observa a menina que havia salvado. Cabelos castanhos lisos, que praticamente encobriam seu rosto, ela deveria ter no máximo uns doze anos. Como quem abre uma cortina, a menina afasta seus cabelos, deixando ver seus olhos castanhos e seu nariz arrebitado.
- Mas, menina, o que você estava fazendo aqui sozinha?
- Eu estava indo encontrar com a minha mãe. Ela está me esperando no Mappin. Eu estava no ônibus.... aí um bando de gente obrigou ele a parar. Começaram a gritar e a sacudi-lo. Todo mundo desceu e saiu correndo. Eu fiquei com medo e corri também.
- E a tua mãe deixa você sair sozinha?
- E porque não deixaria? respondeu a menina, pelo visto já refeita do susto, não sem antes levantar o nariz arrebitado, em atitude de desafio.
- Por nada, não. Só perguntei por perguntar. Não fica brava não. Olha só, eu me chamo Cesar, qual é o seu nome?
- Meu nome é Tatiana.
- Bem, Tatiana, vamos fazer assim: eu vou te levar até o Mappin para você encontrar a sua mãe, certo?
Tatiana já estava pronta para negar, sob a alegação de não ser nenhuma criança, mas a sensação de passar mais algum tempo na companhia de seu salvador a fez recuar.
- Aceito... mas só até a porta, ouviu?
Os anos se passaram. Cesar, agora com vinte anos, havia entrado na Faculdade de Direito São Francisco. Com muito esforço, tinha conseguindo estágio num importante escritório de advogados, dando assim início à carreira que sempre idealizara.
Uma tarde, ao chegar ao escritório é chamado pelo Dr. Luís, seu chefe imediato. Apontando as três meninas que estavam sentadas no sofá da sua sala, conduziu as apresentações.
-Meninas, esse é o Cesar. Ele vai levá-las para conhecer tudo por aqui. Cesar, essa morena bonita é minha filha, Isabel. Ela e as suas amigas, que estão no colégio, vieram aqui conhecer o nosso escritório. Quem sabe não tenhamos aquí alguma futura advogada?- disse apressando em colocá-las para fora da sala.
Cesar iniciou o giro, tendo à frente Isabel, que tentava aparentar para as amigas uma intimidade - não existente -com o estagiário do seu pai.
- Cesar, vamos começar pela biblioteca do meu pai. Meninas, vocês precisam ver a biblioteca. Papai tem muito orgulho dela, são mais de mil e quinhentos livros!
As amigas seguiam Isabel, não sem deixarem transparecer um certo enfado. Uma delas, a mais bonita,na opinião de Cesar, pergunta:
- Você já é formado?
- Não, ainda não. Faltam dois anos e meio.
- O pai da Isabel falou que os advogados podem optar por várias áreas, tipo assim ... trabalhar no júri, mexer com impostos, coisas assim. Qual área você vai escolher?
- Eu não quero advogar. Pretendo seguir a carreira diplomática.
- Nossa...deve ser bem legal. Conhecer vários países, outras culturas...
- É, esse é o meu sonho.
A visita tinha chegado ao fim e, na despedida, a menina ao se aproximar de Cesar, fala bem baixinho, de uma maneira que só ele ouvisse.
- Espero que você realize o seu sonho!
Cesar,meio sem jeito, se despede da menina-Que coisa intrigante, pensou. Por uma razão qualquer, aquela menina dava a impressão de que já o conhecia...

O calor no Fórum estava infernal. Cesar viera acompanhar o processo de um cliente do escritório. Sua empresa estava envolvida em uma ação de despejo. Não era um grande cliente e nem uma grande ação, mas Cesar não tinha do que se queixar. Com vinte e sete anos, tinha alcançado uma posição que muitos colegas da sua idade não haviam atingido. Era advogado de um grande escritório, tinha o respeito dos colegas e já estava sendo sondado pela direção para se tornar advogado associado. Apressado, cruzava o saguão do Fórum. Havia combinado com a sua esposa de apanhá-lo na saída e sabia que os guardas não a deixariam esperar, com o carro parado na porta.
Distraído, não vê uma moça que caminha em sua direção, examinando uma montanha de papéis que carregava nas mãos.
O desastre foi inevitável. Um encontrão e os papéis voaram por todos os lados.
- Desculpe-me,moça.... estava distraído, espera que eu te ajudo! enquanto falava, Cesar se abaixa recolhendo os papéis espalhados.
- Não se incomode,a culpa foi minha. Estou atrasada para entregar essa petição e nem reparei que você estava vindo... Enquanto falava, ela levanta a cabeça para observar com quem havia trombado. Com um sorriso de surpresa, dirige a pergunta.
- Espera aí.. Você não é o Cesar?
- Você me conhece?
- Eu acho que você é que não está me reconhecendo. Eu era amiga da Isabel, a filha do Dr. Luís.
A lembrança daquele dia vem de imediato na memória de Cesar.
- Mas claro, a estudante que queria conhecer um escritório de advogados. Puxa, quanto tempo,hein..?
Enquanto falava, Cesar não conseguia disfarçar o efeito que ela estava lhe causando. Aquela colegial havia se transformado em uma mulher de uma beleza estonteante.
- O que você está fazendo aqui no Fórum? Não vai me dizer que você resolveu estudar Direito?
- Pois é, acho que aquela visita foi decisiva. Acabei entrando em Direito na PUC. Agora, enquanto não me formo, estou fazendo estágio na defensoria pública.
- Defensoria pública...Muito bem, uma futura guardiã dos injustiçados, não?
- É, estou gostando da área. Acredito que seja o que eu quero para mim.
- Que bom, fico feliz. Escuta...
Uma buzina interrompe a frase de César.
- Deve ser a minha mulher. Marquei com ela de vir me buscar... fala,constrangido,Cesar, não sem deixar de notar o efeito da frase no semblante dela.
- Não tem problema, outra hora a gente conversa. Ela fala enquanto ia se afastando.
- Espere... qual é mesmo o seu nome? a pergunta de Cesar ficou sem resposta. Ela já havia sumido. A sensação de vazio se apossa de Cesar. Queria perguntar um mundo para aquela mulher. Alguma coisa nela lhe trazia sensações desconhecidas, familiares. A buzina volta a tocar.

Aquela sexta-feira Cesar resolveu que iria almoçar deixando para trás todos os seus exames de colesterol. Está certo que, aos cinquenta anos, tinha que se cuidar. Mas, bolas... hoje ele iria "baixar a guarda" - pensou.
Haviam inaugurado, na Alameda Eugênio de Lima, bem perto do seu escritório da Av.Paulista, um restaurante chamado A Mineira. Conhecidos seus haviam almoçado lá e
contaram que o leitão a pururuca que eles faziam era para se comer de joelhos.
A entrada e o interior do restaurante lembravam uma casa de fazenda. Cadeiras de madeira, mesas simples arrumadas com toalhas muito brancas. Na parede lateral, ao lado do balcão do bar, uma imensa roda de carroça ajudava a criar o clima da roça.
Cesar escolheu uma das mesas redondas que ficavam no fundo do salão. Quando o garçom chegou com o cardápio, Cesar recusou com um aceno de mão.
- Nem precisa me trazer o cardápio, meu amigo. Vim aqui para comer o famoso leitão à pururuca. Pode me trazer, para abrir os trabalhos, uma "branquinha" reserva especial e uma cervejinha bem gelada.
O garçom se retirou, não sem antes demonstrar a aprovação ao pedido do cliente.
A chegada do leitão encontrou um Cesar de talheres em riste e a boca aguada.
Realmente o leitão era para conhecedores. Temperado com sal, limão, alho e cebola, sua carne praticamente derretia na boca. A pururuca estava especial. Cesar sabia que, para se conseguir o ponto certo, era necessário passar gelo na pele do leitão e depois espalhar, com uma concha, óleo fervendo. Só assim a pururuca vinha bem.
Ao terminar o almoço, Cesar chama o garçom, pede para fechar a conta, recusando o café oferecido. Iria tomá-lo no Fran's Café, a três quadras dali, assim aproveitava e andava um pouco.
Chegando ao café, ao procurar uma mesa vaga, Cesar tem um choque. - Não... não era possível. Não podia ser ela! - pensa espantado. Ainda incrédulo aproxima-se da mesa em que estava uma mulher, que lia distraídamente uma revista.
- Desculpe-me, não quero ser atrevido, mas você não é.....
A mulher, desviando os olhos do que lia, olha para Cesar. Seu rosto é iluminado por um sorriso e ela de imediato se levanta para cumprimentá-lo.
- Cesar, você aqui...não acredito!.
Um abraço. Cesar sentiu como se jamais houvesse recebido um abraço igual. Parecia que a sua alma estava sendo abraçada, uma descarga elétrica percorrendo cada terminal nervoso do seu corpo.
Um beijo e o convite para sentar.
- Mas quanto tempo! Quantos anos? Dez, vinte?
Cesar não conseguia calcular. Quem sabe ontem, ou talvez, em uma outra vida. Mudo, não podia parar de admirá-la.
Os anos haviam decidido contornar aquela mulher. Passaram como uma brisa, que mal despentea os cabelos. Lábios, olhos, o nariz bem feito. Ela estava ainda mais bonita, mais mulher.
Recobrando um pouco do autocontrole, Cesar pergunta desajeitadamente.
- Nossa, como você conseguiu me reconhecer?
- Você não mudou tanto assim. Tirando alguns cabelos brancos, acho que você continua o mesmo.
Cesar agradeceu aquilo que considerou uma mentira piedosa.
- Você, sim, mudou. Está ainda mais bonita - Achando que aquilo pudesse parecer muito clichê, não dá tempo para resposta e continua falando.
- Sabe o que é mais engraçado? Essa é a terceira vez que nos encontramos na vida, e até hoje eu não sei o seu nome..
Ela lhe sorri, colocando a sua mão sobre a dele.
- Cesar, vou te contar um segredo. Essa não é a terceira vez que nos encontramos, é a quarta... e, apesar de você não lembrar, você sabe também meu nome.
- Como assim?, Eu não estou entendendo...
- A nossa história começou há muito,muito tempo atrás. Você não estudava no Colégio das Nações?
- Estudei sim, mas não me lembro de você...
- Claro que não. Você já estava no Clássico e eu era apenas uma garotinha começando o ginásio. Eu estudava no período intermediário e você de manhã. Todos os dias, combinava com minhas amigas de chegar na escola mais cedo, só para pegar a saída do seu período e ver você saindo.
- Um dia soube que você estava trabalhando na cidade. Inventei para a minha mãe que precisava de uma roupa nova e marquei de encontrá-la no centro. Na verdade queria ver se te encontrava. E te encontrei, não como eu imaginava, mas te encontrei. O meu nome é Tatiana.
Cesar sentiu seu corpo petrificar. Então era ela, a menina da passeata!. A garotinha assustada que ele tinha protegido! Tudo agora começava a fazer sentido. Os encontros, a sensação de conhecê-la, a proximidade.
As imagens e lembranças começam a desfilar em sua cabeça, como um vídeo de fotos enlouquecido. Cesar tenta ordenar as suas emoções. Parecia que uma imensa porta havia sido aberta e seus corpos foram sugados para uma outra dimensão. No estado em que ele se encontrava, achou melhor começar a história pelo fim.
- Tatiana, então sempre foi você? Eu não podia imaginar. Mas conte-me tudo. Continua advogando?
- Continuo na defensoria pública. Identifiquei-me desde o começo. E você conseguiu seguir a carreira diplomática? Era seu sonho, lembra?
É claro que ele se lembrava. - Espero que você realize seu sonho!- havia sido a frase dela naquele dia no escritório. Da mesma forma como não podia esquecer o que o fizera abandonar o projeto.
-Não Tatiana, não segui adiante. Aqueles tempos eram tempos muito difíceis. A ditadura, a repressão. Um governo sem liberdade, uma vida sem democracia. Pensei muito e cheguei à conclusão de que jamais poderia servir como representante de um país que era governado por militares.
-É uma pena! Dava para sentir pelo brilho dos seus olhos o quanto você desejava isso.
Cesar não conseguia entender o que estava sentindo. Nunca estivera tão confuso, tão sem reação. Parecia que Tatiana havia estado sempre ali, acompanhando cada momento da sua vida.
-E a família? Pelo que me lembro você tinha se casado. Continua? Tem filhos?
- Continuo casado, sim, tenho três filhos. E você?
- Eu também me casei e tenho dois filhos lindos. Um rapaz e uma menina. O casamento é que não deu... me separei.
-Poxa, que pena! O que aconteceu?
- No começo até que era bom. Ele sempre foi um bom marido, um bom pai. Depois eu acho que os negócios foram tomando conta dele. Queria sempre mais.Mais negócios, mais dinheiro, mais poder. A relação foi esfriando, nos distanciamos.
- E não surgiu mais ninguém? Cesar fez a pergunta, se surpreendendo a desejar uma negativa como resposta.
- Nada de muito sério, namoricos sem maiores compromissos.
- Eu imagino a legião de arrasados que você deve ter deixado para trás. Você é uma das mulheres mais bonitas que eu conheci.
- Qual o que! Um galanteador de primeira... O "terror" do Colégio das Nações volta à atacar!
- Desculpe-me, devo estar passando uma imagem terrível para você; constrangido, Cesar tenta corrigir. - Eu não quero que você me julgue mal, não sou esse tipo de pessoa.
- Eu tenho certeza disso! Tatiana dá um imenso sorriso, ao mesmo tempo em que segura as mãos de Cesar. - Mas não posso negar que esses seus elogios me fazem um bem imenso. Bem aqui dentro - diz apontando o peito - aquela garotinha de doze anos está em estado de graça. Escutou, com atraso, aquilo que sempre quis ouvir. Você não sabe como isso é importante. Você sempre foi uma referência na minha vida, minha grande paixão. Acho que de uma certa maneira, procurava você em cada um dos meus relacionamentos.
- Verdade?
- Claro que é. Jamais diria uma mentira para você. Mas... vamos falar de você, fale de sua vida. Você me parece preocupado.
- Não, imagine. Apenas não sei como me portar, o que dizer. Você me deixa completamente fora do eixo.
- César, você me responde uma pergunta? É bem pessoal....
- Claro, pode perguntar.
- Você me disse que permanece advogando, que tem três filhos e continua casado. E a sua mulher, como ela é? Vocês são felizes?
Cesar não imaginava como uma pergunta tão simples pudesse ser tão complicada para responder. O trabalho, a família, os amigos, qual era a definição de felicidade?
Precisava apertar o botão de "play" e iniciar a exibição do filme da sua vida.
Na vida profissional, após a resolução de não seguir a carreira diplomática, tudo seguira como planejado. Galgara cada degrau da profissão até possuir a sua própria banca de advogados. Era respeitado, bem sucedido e sem nenhum problema financeiro.
Seus filhos nunca deram maiores preocupações. O mais velho havia se formado em engenharia e trabalhava em uma construtora internacional. André, o do meio, preferira abraçar a profissão do pai e já estava no escritório com ele. Carla, a caçula, ainda era estudante, Fazia artes plásticas na FAAP.
Ariane, sua mulher, sempre fora um exemplo de dedicação. Boa esposa, boa mãe, uma mulher sempre pronta a atender a qualquer necessidade da família. Cesar sabia que muito do sucesso profissional que havia obtido deveria ser dedicado a ela. A sua força no comando das coisas da casa e dos filhos deu as asas que Cesar precisou para construir sua carreira. A paixão e o amor do início da relação, com o tempo, acabaram por se transformar em uma grande amizade, cumplicidade mesmo. Ariane era realmente uma mulher excepcional. Ela jamais poderia ser responsabilizada pelo vazio que Cesar carregava no peito. Uma sensação de falta, como quando você esquece uma coisa para trás e não consegue se lembrar do que é. Essa ausência o havia acompanhado a vida toda.
Cesar avaliou qual deveria ser a resposta à pergunta de Tatiana. Naquele momento do encontro, passar a impressão de conquistador barato era tudo o que ele não queria.
Covardemente, respondeu:
- Sim, eu sou feliz.
- Que bom Cesar. É muito bom saber que você conquistou tudo o que queria, que é uma pessoa realizada. Olha, gostaria de ficar conversando mais um pouco com você, mas tenho que voltar para o escritório. Tenho algumas coisas para despachar.
- Já? Fique mais um pouco. Sei lá, acho que temos tantas coisas para conversar. Tantas lembranças a dividir - Cesar não queria deixá-la partir.
- Hoje não dá. Fica para uma outra vez. Afinal, pelo visto, a gente sempre se encontra, não é?
Cesar, contrariado, a acompanha até a saída, onde um taxi a aguardava.
- Olha, Cesar, fiquei muito contente por te encontrar bem, realizado e feliz. Desejo, de coração, toda a sorte do mundo para você e a sua família. Quem sabe, se a vida quiser, a gente se vê por aí.
Um último abraço, um beijo no rosto e Tatiana se despede entrando no taxi.
Cesar era um conflito só. Enquanto o seu lado racional o mantinha imóvel naquela calçada, algo dentro dele gritava por uma reação.
Não podia deixar tudo ser entregue ao destino novamente. Não tinha mais tempo nem idade para esperar. Não agora. Não agora que sabia que o seu vazio, aquele vazio de toda a vida, parecia ter se preenchido. Essa poderia ser a sua última chance.
Praticamente se atirando dentro de um outro taxi que passava, solicita a direção.
- Por favor, motorista, siga aquele taxi ali na frente!

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