quarta-feira, 10 de março de 2010

Celular calibre 38



Patrícia Diguê



Tenho uma amiga que apaga os números dos celulares dos ex (namorados, ficantes, namoridos e outras aberrações) imediatamente após a confirmação de rompimento. Com isso, não corre o risco de ligar para nenhum deles quando tiver insônia ou estiver embriagada no boteco. Além do mais, isso também serve de vingança em caso de algum deles resolver telefonar. “Quem tá falando? Ah, desculpe, não tenho mais o seu número”. Realmente, este aparelhinho é uma verdadeira arma pelas madrugadas afora, e, assim como as de verdade, podem fazer grandes estragos.

- Alô (zzzzzzzz)!

- Oi, tudo bem? Te acordei, né?

- Que horas são?

- Sete horas.

- Que dia é hoje?

- Segunda-feira. Desculpe, liguei porque achei que você não fosse atender...

- Mas eu deixo o celular do lado da cama pra despertar. Olha, tô morrendo de saudades de você.

- Eu também tô morrendo de saudades de você. Desculpe, só queria deixar a ligação registrada pra você se lembrar de mim quando acordar, tinha certeza que não ia atender.

- Eu já penso em você todos os dias quando acordo...

- Eu também penso em você todos os dias quando acordo...

- Onde você está?

- Naquele lugar que a gente passou, sabe?

- Ah... Acordou agora ou está virado? Tá tudo bem?

- Tô virado, vim de uma festa e ainda tô bebendo chopp. Mais uma vez, fiquei pensando em você, na minha paixão distante.

- Vem pra cá...

- Quem dera!

- Vem no feriado!

- Não posso.

- Por favor, não me liga mais não...

- O quê? Não tô escutando...

- Não me liga mais, por favor.

- Tá bom...

- Um beijo.

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