quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mas eu te amava

Patrícia Diguê



Quando te conheci, seus cabelos cheiravam a escapamento e seu perfume era o do desodorante mais barato da farmácia da esquina.

Mas eu te amava.

Quando te conheci, nosso ninho de amor era um colchão já ondulado pela idade avançada e nossa trilha sonora vinha de fitas cassete gravadas de discos de vinil.

Mas eu te amava.

Caetano, Cult, U2 estavam todos na mesma seleção após longas horas em frente ao aparelho de som.

Suas camisetas muitas vezes cheiravam a gaveta e você fazia a barba com espuma feita de sabonete Lux.

Mas eu te amava.

Lembro que te amava mesmo quando usava uma zorba sem elástico, uma camiseta com furo ou uma meia trocada.

Quando te conheci, as flores que ganhava vinham do fundo do quintal e comer pizza fora era em ocasiões especiais.

Mas eu te amava.

Quando te conheci, você usava tênis, não sabia dar nó em gravata nem limpar direito a unha do pé.

Mas eu te amava.

Naquela época, seus cabelos batiam no ombro, seu peito cheirava a parafina e eu tinha que passar horas te esperando na praia.

Ainda assim, te amava

Te amava até com touca de banho cor-de-rosa, blusa do avesso ou calça um número maior.

Até quando esquecia as datas especiais, pechinchava cinquenta centavos ou alugava um filme repetido.

Naquela época, eu acabei concordando que não ter carro era descolado, que ir à praia com chuva podia ser interessante e que acampar era super confortável

Mas porque eu te amava.

Quando você contava a mesma história milhares de vezes, não ria da minha piada ou não levava a sério minha TPM, ainda assim eu te amava.

Quando te conheci, só te chamavam pelo primeiro nome, seus amigos chegavam sem avisar e no fim do ano você foi papai Noel.

Hoje, não te conheço mais. Mas, por favor, nunca se esqueça:

Eu te amava.

Nenhum comentário:

Postar um comentário