quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Quem dera te ver ao acordar

Patrícia Diguê


Hoje, ao abrir os olhos, desejei te encontrar depois da porta, com seu pratinho de comida assistindo a desenho animado. Por um instante, fechei os olhos e tinha certeza que ao sair do quarto toparia com seu sorriso aberto e olhos brilhantes de sinceridade infantil. Daria-te um beijo estalado na bochecha, te chamaria de “gostosa linda”, e, antes que pudesse escovar os dentes, você já começaria a despejar o relatório de tudo o que tinha acontecido naquela manhã.

Outra vez fechei os olhos e desejei que, talvez, a porta estivesse aberta. E você, sem entender porque alguém dorme quando já está claro, viria pulando na minha cama dizendo que já era dia. Aí eu pediria cinco minutinhos. E você contaria até cinco dizendo “Pronto, acorda”.

Abri os olhos e finalmente me convenci da impossibilidade de isso tudo acontecer. Puxei a cortina e vi árvores secas, janelas fechadas, pessoas encolhidas. Desejei cair em um sono profundo e só acordar quando pudesse sentir seu cheiro e beijar sua bochecha rosa. Aí me arrependi (pausa pras lágrimas)...

Aí me arrependi de ter ficado só 10 minutos com você na piscininha em vez de 20, de preferir assistir à TV ao brincar de cabana, de te deixar à noite, em vez de deitar do seu lado. Arrependi-me de toda a minha impaciência de adulto e senti raiva de não saber mais brincar.

Depois do arrependimento veio o medo. Medo de perder momentos tão importantes para sua vida. Medo de não estar quando você aprender a escrever uma frase inteira, de não estar do seu lado quando ganhar ovos de Páscoa, presente de aniversário ou descobrir que o papai Noel não existe.

Só espero ser perdoada, porque tudo que fazemos na vida, seja certo ou errado, no fundo é para um dia poder recompensar as pessoas que nos amam de verdade, aquelas que nunca esperam nada em troca, exceto um sorriso pela manhã.

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